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É melhor ser amado do que temido

De forma quase profética nossa coluna trazia, na semana passada, em sua imagem de capa a foto de Maquiavel e citava “O Príncipe”. O caso referia-se a uma ironia interna da narrativa. Talvez nossas antenas captassem as ondas tênues daquilo que viralizaria em alguns dias. Na suprema corte de nosso país, um advogado confundiu a obra renascentista, de filosofia política, com a obra literária “O Pequeno Príncipe” do escritor e aviador Antonie Saint-Exupéry.

Saint-Exupéry ganhou o nome da avenida central do bairro Campeche em Florianópolis, pois usou a via para pousar um avião, conforme mostra matéria na imagem.**

O príncipe não leu o príncipe, o advogado também não

A última coluna, ironizava, pasma, o fato de há mais de 500 anos Maquiavel ter falado sobre a importância de o Príncipe/Governante preparar-se para as enxurradas nos tempos de bonança, numa alusão ao virtuoso que domina a própria sorte, e faz obras de infraestrutura para esperar as águas. Nesta ocasião o que era exemplo figurativo para definir a virtude de um governante, tornou-se mostra literal da incompetência de outro(s).

A ironia, agora, é a “salada de frutas” mental, ideológica e retórica promovida pelo advogado de um dos réus no caso da tentativa de golpe contra a república em 08/01 de 2023. Caso que não precisa ser por menor explicado aqui.

Uma crônica não se presta a tratado filosófico, mas nosso tema é educação

Vamos lá! O Príncipe, de Maquiavel, é considerada a primeira obra especificamente moderna na filosofia política, ou seja, sem influência dos debates teológicos, da igreja ou da bíblia.

A obra apresenta uma espécie de manual, formato literário comum na época, mas que ao invés de dar conselhos para que o príncipe se pinte como bom moço (a piada surgiu ao natural), fala sobre estratégias que independem dos juízos morais. Os conselhos referem-se à manutenção do poder.

Os fins justificam os meios

Via Instagram, a revista Fórum cometeu uma gafe ao falar sobre o advogado que cometeu gafe de confundir as duas obras. Diz: “ ‘Os fins justificam os meios’, na verdade, é uma frase da obra ‘O Príncipe’”. ***

Na verdade, não. A frase foi convencionada para explicitar o pensamento de Nicolau Maquiavel, mas a passagem não existe. Ainda, Maquiavel fala sobre unidade republicana, de uma Itália que ainda levaria em torno de 300 anos para se unificar. O mau uso, agora interpretativo, prevalece.

Príncipe de outro planeta

Em O Pequeno Príncipe, é o príncipe de um outro planeta que possibilita ao terráqueo, um piloto de avião que cai no desrto, rever seus valores, talvez seja o que precisamos. A falência é nossa como nação e talvez como espécie.

Criticamos “a” ou “b”, mas, muitas vezes, só estamos tapando o sol com a peneira…

*Jonas Rodeghiero é repórter fotográfico, professor do magistério gaúcho e doutorando em filosofia pela UFPEL

**Imagem retirada do site abaixo às 12:28 de 19/09/2023 :

https://ndmais.com.br/noticias/a-passagem-de-antoine-de-saint-exupery-por-florianopolis/

***Boa matéria sobre a obra de Maquiavél:

https://revistaforum.com.br/politica/2023/9/18/principe-de-maquiavel-por-que-livro-se-tornou-referncia-na-cincia-politica-144316.html